sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Zetti: um goleiro, um destino



Matéria feita pelo Fifa.com

“Você precisa, primeiro de tudo, gostar do que faz”, afirma Armelino Donizete Quagliato, o Zetti, ao FIFA.com. “Não é qualquer um que gosta. Você joga no gol, sozinho, toma bolada, pode levar um gol e ainda tem grande chance de ser criticado.”

É isso que o ex-goleiro da Seleção Brasileira também fala aos alunos que se inscrevem em sua academia especializada e dedicada exclusivamente para a profissão, de nome bem sugestivo: “Fechando o Gol”.

E aí, entre os mais de 450 alunos que passam ou passaram pelo treinamento, não importa a idade ou as intenções, se quer seguir carreira ou se apenas se dedica a acabar com a brincadeira dos companheiros da pelada do fim de semana. “O mais importante mesmo é ele gostar de jogar no gol.”

No campo
O início debaixo das traves para este garoto de Porto Feliz, no interior de São Paulo, foi meio natural. “Sempre tive uma grande vantagem na minha adolescência, porque tinha facilidade no esporte usando as mãos, talvez por aprender a fazer muitas coisas desde muito cedo no sitio em que nasci. Na escola, jogava basquete e vôlei. Acabei sendo um atleta diferenciado jogando no gol”, conta, antes de confessar o outro lado da história: “Na linha eu brincava, mas não era escolhido porque eu era ruim, mesmo”.

Já em Capivari, o goleiro Zetti começou a se destacar em jogos locais até ser indicado por um amigo para testes no Guarani. Foi aprovado no Bugre, mas acabou dispensado aos 17. Sua próxima escala foi o Palmeiras, demorando para se firmar. Foi emprestado duas vezes para o Paraná, jogando por Toledo, pelo qual foi eleito o melhor arqueiro do Estado, e Londrina. Na volta de um segundo empréstimo, em 1986, teve de se contentar como terceiro goleiro.

Em 1987, a grande chance. O titular Martorelli acabou expulso em jogo do Paulistão, e Zetti foi para o campo. “Aí foi minha ascensão, o alicerce da minha carreira”, comenta. Ele passou 13 partidas consecutivas sem tomar um gol sequer. Foram precisamente 1.238 minutos de invencibilidade, que lhe renderam muitas manchetes, até que o zagueiro ex-Palmeiras e Seleção Luis Pereira o superasse vestindo a camisa do Santo André.

"Quase parei"
Zetti gostava de jogar no gol, não há como duvidar. Afinal, como se não bastassem os percalços peculiares da posição, a única que exige um uniforme diferente de seus outros dez companheiros em campo, ele teve de lidar com essas idas e vindas e situações complicadas antes de prosperar. Do pior momento ele não esquece nem a data. “Quebrei a perna no dia 17 de novembro de 1988, contra o Flamengo”, conta, de modo seco, recordando uma dividida com o atacante Bebeto, no Maracanã.

Ficou oito meses parado. Quando retornou ao time, o jovem Velloso havia tomado conta da posição, e o técnico Emerson Leão, ex-goleiro, começou a revezá-lo no banco de reservas. No fim, acabou afastado do elenco e dos gramados novamente. “Fiquei sem contrato, procurando clube. Quando aparecia alguém interessado, o Palmeiras pedia muito. O Flamengo, do Telê, e o Grêmio foram dois, mas ninguém aceitaria pagar o que estavam pedindo”, lembra. “Foi aí que comecei a pintar, a fazer outras atividades. Estava de saco cheio e fiquei muito perto de parar de jogar.”

No fim, um amigo, de fora do futebol, interveio e comprou seu passe. Zetti passou dois meses na Europa e chegou a fazer testes pelo time B do Atlético de Madrid. Até que recebeu uma ligação que mudaria sua vida. Valdir Joaquim de Moraes, ex-goleiro do Palmeiras e um dos pioneiros no exercício da preparação de goleiros, entrou em contato, falando sobre o interesse do São Paulo. Um contrato de empréstimo de dez meses foi acertado em 1990. Mas ele só sairia do time em 1996, e aquele amigo lucrou com seu investimento.

Consagração
Aí, sim, ele teve a chance de trabalhar com Telê Santana. Em seu primeiro ano, o clube se reestruturou. Dali para a frente ganharia praticamente tudo o que disputaria, formando um dos maiores times da história do Brasil. Foram duas Copas Intercontinentais, contra os poderosos Barcelona (que já havia sido derrotado por 4 a 1 em um Troféu Teresa Herrera) e Milan, duas Libertadores, um Brasileiro, dois Paulistas e muito mais.

“O Telê conseguia fazer isso: montar um time. Ele era muito bom em observar, sabia a peça que precisava. Aos poucos, o time foi se encaixando, e ele, passando confiança para o grupo. O Raí era o craque, o Muller era o craque, mas tínhamos um grande time”, afirma. “Ele também dava o respaldo para nós e ajudava o time a seguir na linha, sem se desequilibrar. Fomos campeões em 1991, 92, 93 e não saímos do foco. O perigo no futebol é quando você sobe no pedestal, deixa a vaidade influenciar. Não tínhamos isso. Foi uma fase brilhante.”

Em meio a tantos troféus com seu clube, ainda viria o maior de sua carreira: a Copa do Mundo da FIFA EUA 1994, como reserva do lendário pegador de pênaltis Taffarel. Como era aceitar ser reserva em sua melhor fase? “Penso que em 1993 foi meu grande momento. Estava preparado para jogar as eliminatórias. Já havia passado por decisões e sido campeão. Estava maduro, bem fisicamente, e lamento não ter jogado. Queria uma chance”, diz. “Mas sempre admirei o Taffarel, era fã dele, torci junto com ele na Copa.”

Experiência
Toda essa bagagem agora Zetti coloca à disposição de seus alunos. Sempre que pode, ele vai para a quadra, participa das aulas e dá dicas. O maior desafio foi desenvolver uma metodologia para a academia, criada há três anos. “Não sabíamos o caminho certo disso, não havia parâmetro. Na prática, cada atleta se comporta diferente. Ficamos estudando esses comportamentos, para achar o ponto certo, para elaborar e aí passar essa sequência para os meninos, principalmente aqueles que estão iniciando.”

Movimentos de judô, vôlei e outros esportes agora são empregados nos exercícios. Muitos garotos se inscrevem com o sonho de seguir carreira. Alguns já foram aprovados em testes no Palmeiras, no Corinthians e outros clubes. Entre os profissionais, hoje Rubinho, ex-Corinthians e Genoa, está trabalhando na academia para se manter em forma, enquanto espera um clube. Mas nem todos têm essa pretensão, claro, num universo de alunos de 8 a 66 anos de idade. “O que a gente faz é passar noção de como jogar no gol, melhorar a coordenação motora, como cair sem medo, mostrar que saltar nem sempre é tudo, treinar todo o tipo de situação. A gente dá todo o fundamento”,  conta. “Só não tem jogo, porque aí não consigo fazer só com goleiro.”



Clubes: Toledo (1983), Palmeiras (1984), Londrina (1985), Palmeiras (1986-89), São Paulo (1990-96), Santos (1996-99), Fluminense (2000), União Barbarense (2001), Sport (2001)

Seleção: 17 jogos

Principais títulos: Copa do Mundo da FIFA EUA 1994, Copa Intercontinental (1992, 1993), Copa Libertadores (1992, 1993), Recopa Sul-Americana  (1993, 1994), Supercopa (1993), Campeonato Brasileiro (1991), Campeonato Paulista (1991, 1992), Torneio Rio-São Paulo (1997).

2 comentários:

Bruno disse...

Queria ver posts de qualidade como esse em outros "renomados" blogs São Paulinos. Parabéns!

Vinícius Ramos disse...

Obrigado Bruno! Fico feliz com o apoio.
Aproveito e deixo o link para conhecer o post que fiz sobre Eder Jofre, maior pugilista brasileiro e grande atleta são-paulino. http://bit.ly/y5Uq4x

Obrigado e um abraço!

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